Política Fiscal e Sustentabilidade da Dívida

Uma análise direta e avançada sobre como decisões de gasto, arrecadação e endividamento definem a estabilidade econômica de um país — e por que a confiança fiscal é o que realmente segura uma economia de pé.

Método PERA

12/3/20252 min ler

Política fiscal é basicamente o governo decidindo quanto gasta, quanto arrecada e como financia a diferença entre essas duas coisas. Parece simples, mas o impacto disso na economia real é absurdo — define confiança, juros, risco país, crescimento e até estabilidade institucional. Quando a gente fala de sustentabilidade da dívida, estamos falando do jogo mais sério da economia pública: garantir que o governo consiga carregar sua dívida sem entrar numa espiral de juros que engole tudo.

A real é que a dívida pública não vira problema só porque é grande — vira problema quando cresce mais rápido do que a economia dá conta. A equação que governa isso é básica, mas mortal: se o juro médio da dívida é maior do que o crescimento do PIB, a dívida explode se o governo continuar deficitário. Ou seja, não adianta ficar gastando loucamente se a economia tá crescendo devagar e os juros estão lá no teto. Isso separa países sérios de países que implodem.

A política fiscal tem três armas: gasto, impostos e emissão de dívida. Só que cada escolha tem um custo. Aumentar imposto freia a economia; cortar gasto briga com metade da população; emitir dívida deixa os juros maiores porque o mercado exige prêmio pra financiar um governo mais alavancado. No fim, sustentabilidade fiscal é um equilíbrio fino entre política, macroeconomia e credibilidade.

Se o governo é confiável, consegue refinanciar dívida com taxa menor. Se é zoado, a dívida vira bola de neve e o juro real sobe até matar o crescimento. É por isso que países equilibrados conseguem rodar dívida alta tranquilamente (Japão), enquanto países bagunçados entram em colapso com dívidas menores (Argentina). A chave é o superávit primário estrutural — não aquele remendado em ano eleitoral, mas o que mostra disciplina ao longo do tempo. Sem isso, a dívida cresce no automático.

Governos ainda usam estratégias como alongar o prazo da dívida, aumentar participação de títulos atrelados à inflação, reduzir exposição ao câmbio e tentar estabilizar a curva de juros futura. Tudo isso é engenharia pra evitar que uma crise de confiança vire crise de solvência. E quando você junta fiscal com monetária, percebe que uma aperta enquanto a outra tenta relaxar: se o governo gasta demais, o Banco Central é forçado a subir juros pra segurar inflação. Isso piora a dívida. Ou seja: descoordenação fiscal-monetária é receita de desastre.

No fim do dia, sustentabilidade fiscal é muito menos sobre “estar endividado” e muito mais sobre “inspirar confiança contínua”. O mercado aceita dívida grande, mas não aceita dívida sem plano. Se o governo mostra trajetória de ajuste, mesmo que lenta, os juros caem, a economia respira e a dívida estabiliza. Se não mostra, o castelo cai rápido.

E é isso: política fiscal é a espinha dorsal de uma economia séria. Sem ela, não tem investimento, não tem estabilidade, não tem crescimento — só turbulência.