Antigo Mercado vs. Novo Mercado: O que realmente muda na prática

Um panorama direto sobre como esses níveis de governança da B3 funcionam, por que eles existem e como diferenciam empresas sérias de empresas “meio qualquer coisa” — tudo na prática, sem burocratês.

Método PERA

12/3/20253 min ler

Quando você entra de cabeça no mercado acionário brasileiro, uma das primeiras coisas que você percebe é que as empresas listadas não estão todas no mesmo “nível de seriedade”. A B3 separa elas justamente por isso: pra mostrar quem joga limpo, quem tenta jogar limpo e quem só cumpre o mínimo pra existir. E é aí que entram o antigo mercado, os níveis de governança (Nível 1, Nível 2) e o topo da cadeia: o Novo Mercado.

O antigo mercado — conhecido formalmente como “segmento tradicional” — era basicamente o Velho Oeste da Bolsa. Antes dos anos 2000, governança corporativa era vista como frescura; o controlador mandava, o minoritário aguentava, e o mercado não reclamava tanto porque não tinha alternativa. A empresa podia ter ações PN com direito limitado, pouca transparência, conselhos frágeis, acordos obscuros e práticas contábeis bem… flexíveis. Quem investia tinha que torcer pra empresa ser honesta — não tinha muito mecanismo de proteção.

Com o tempo, isso começou a travar o mercado. Investidor sério não colocava grana onde não tinha visibilidade. IPO não saía. A solução? Criar níveis mais altos de governança. Foi aí que surgiram Nível 1 e Nível 2, cada um com obrigações extras. Só que o game mudou de verdade com a criação do Novo Mercado, que virou o “selo premium de governança” da Bolsa.

O Novo Mercado exige que a empresa só tenha ações ON (uma ação = um voto), o que evita aquele clássico brasileiro de controlador empurrando PN pra minoria enquanto decide tudo sozinho. Além disso, obriga práticas robustas: conselho mais independente, regras rígidas de transparência, arbitragem em caso de conflito, tag along de 100% em caso de venda do controle e auditoria séria. Em resumo: o minoritário deixa de ser figurante e vira parte do jogo.

Enquanto isso, empresas no antigo mercado nem sempre precisam seguir essas boas práticas. Elas podem continuar com estrutura de poder concentrada, menos transparência e menos proteção ao investidor. Não quer dizer que toda empresa fora do Novo Mercado é ruim — algumas são excelentes e só nunca migraram por peculiaridades históricas. Mas, em média, o risco de governança é maior.

O grande ponto é que o Novo Mercado mudou o fluxo de dinheiro. Quando uma empresa decide abrir capital, o investidor institucional olha de cara: “Está no Novo Mercado ou não?”. Se não está, o desconto de risco sobe. Se está, o mercado reage melhor porque entende que existe uma base mínima de boas práticas que não depende da boa vontade do controlador. Isso faz diferença na precificação, no valuation e até na estabilidade das ações.

Outra mudança é cultural. Entrar no Novo Mercado é assumir compromisso público com governança. E isso pesa. Não dá pra ficar trocando diretoria como se fosse figurinha, não dá pra esconder operação ruim no rodapé da nota explicativa, não dá pra brincar de “empresa de dono”. A empresa se amarra num padrão mais alto — e isso elimina muito ruído.

Pra você, investidor, entender essa diferença evita cair em ciladas. Você sabe que empresas do Novo Mercado tendem a responder melhor em crises, têm estrutura de poder mais equilibrada e oferecem menos risco de manobra surpresa. E, ao mesmo tempo, entende que empresas do segmento tradicional podem ter oportunidades — desde que você saiba exatamente com o que está lidando.

No fim, a divisão entre mercados é um filtro. Não te diz tudo sobre a empresa, mas diz muito sobre o ecossistema em que ela opera, a qualidade institucional, o respeito ao investidor e a transparência. Em um país onde governança sempre foi fonte de dor de cabeça, esses selos viraram a régua mínima de seriedade.

O Novo Mercado não transforma empresa ruim em boa. Mas força empresa boa a provar que realmente é. E isso, pra quem investe no longo prazo, faz toda diferença.